Tuesday, April 21, 2009
Wednesday, April 15, 2009
pocket hole 5
neve lava a luva leva a
leve neve lava a luva leva
a leve neve lava a luva
leva a leve neve lava a
luva leva a leve neve lava
a luva leva a leve neve
lava a luva leva a leve
leve neve lava a luva leva
a leve neve lava a luva
leva a leve neve lava a
luva leva a leve neve lava
a luva leva a leve neve
lava a luva leva a leve
pocket hole 4
nu é o contrário de vestido.
nu é o contrário de tapado.
nu é o contrário de protegido.
nu é o contrário de coberto.
nu é o contrário de forrado.
n é o contrário de u.
nu é o contrário de tapado.
nu é o contrário de protegido.
nu é o contrário de coberto.
nu é o contrário de forrado.
n é o contrário de u.
pocket hole 3
os peixes bocemeiam em bolinhas de ar. eles bocemeiam o mar, nós bocejamos uma grande corrente de ar - entrar para dormir, sair para acordar - ao que chamamos bocejar.
pocket hole 2
nu vem o mar quando o mar cai da nuvem.
nu vem do céu vestir a terra pondo a nuvem o manto nela,
nu da nuvem cobrindo ele o chão da terra.
nu vem do céu vestir a terra pondo a nuvem o manto nela,
nu da nuvem cobrindo ele o chão da terra.
Friday, April 10, 2009
a adília também quer saber quem raio és tu
a mesa tinha:
um copo de cerveja, mas ainda sem cerveja;
uma garrafa de cerveja, 33 cl, cheia;
frio;
um prato de amendoins torrados e intactos;
sol às vezes;
uma taça cor-de-laranja-ora-pálido-ora-fogoso de plástico vazia;
um prato com duas divisões: design especial para os tremoços inteiros e o que restará deles no final;
nuvens que dão à mesa diferenças no tom pardo que sempre tem;
o mar ao fundo e a razão que paira no ar sem definitivamente pousar.
os meus olhos, quando fitam os teus que olham os meus com pressa, são olhos de cão. mas são os teus que fogem. na escrita é diferente: os meus inventam os teus e os teus, implacáveis, entram-me até às coisas que mexem por dentro e eu só posso desviá-los para continuar a inventar as horas:
de encontro;
de chegada;
de espera;
de espera mais um bocadinho;
de saída;
de desencontro.
oh desculpa.
não faz mal, pelo menos não apareceste.
amanhã, o que fazes?
amanhã tenho uma razão a que não sei dar destino. por acaso não tens lá um canto onde ma guardar? é só o tempo que puderes, prometo!
um copo de cerveja, mas ainda sem cerveja;
uma garrafa de cerveja, 33 cl, cheia;
frio;
um prato de amendoins torrados e intactos;
sol às vezes;
uma taça cor-de-laranja-ora-pálido-ora-fogoso de plástico vazia;
um prato com duas divisões: design especial para os tremoços inteiros e o que restará deles no final;
nuvens que dão à mesa diferenças no tom pardo que sempre tem;
o mar ao fundo e a razão que paira no ar sem definitivamente pousar.
os meus olhos, quando fitam os teus que olham os meus com pressa, são olhos de cão. mas são os teus que fogem. na escrita é diferente: os meus inventam os teus e os teus, implacáveis, entram-me até às coisas que mexem por dentro e eu só posso desviá-los para continuar a inventar as horas:
de encontro;
de chegada;
de espera;
de espera mais um bocadinho;
de saída;
de desencontro.
oh desculpa.
não faz mal, pelo menos não apareceste.
amanhã, o que fazes?
amanhã tenho uma razão a que não sei dar destino. por acaso não tens lá um canto onde ma guardar? é só o tempo que puderes, prometo!
Wednesday, April 08, 2009
não se é artista quando se gosta de futebol e isso é um alívio
Escrevo em pedaços de papel desde que me sei, mesmo que a minha memória seja sempre de desconfiar.
Era criança e escrevia à minha mãe e escrevia ao meu pai.
À minha mãe escrevia nos anos e no dia da mãe. Mas nunca o que me mandavam escrever. Escrevia quando lhe roubavam o envelope do dinheiro e deixavam a carteira intacta, ainda que esta tivesse uma nota a sair como isca para que os ladrões não levassem o envelope do dinheiro a sério numa loja com saldos na rua de Santa Catarina antes de ir comprar os cortinados para os quais tinha poupado não sei quanto tempo, só sei que a poupança se guardava em envelopes brancos e suspeitos. Escrevia para que ela não chorasse porque as mães não devem chorar, toda a gente sabe e, desta vez, toda a gente sabe mesmo porque toda a gente teve, em algum momento, uma mãe.
Escrevia ao meu pai quando o meu pai fazia anos e escrevia no dia do pai, mas nunca escrevi o que me era mandado escrever. Ao meu pai escrevia também em bilhetinhos que deixava em cima do aparador de pau-preto que veio no navio de Angola e que ficava à saída do quarto deles, aos quais ele me respondia prontamente num outro bilhetinho em cima do mesmo aparador que ainda existe, ainda no outro o dia o vi, imóvel como sempre dada a excelente qualidade da madeira, e tudo isto para dizermos um ao outro o quanto nos amávamos às escondidas, porque aparentemente dávamo-nos como o azeite e a água se dão.
Uma vez escrevi assim num papel que decorei porque, ao que parece, gostei muito e achava que fazia mesmo sentido (e, desculpa, vou-me rir antes um bocadinho, pode ser?):
Já está.
Não, agora é que já está.
voo voo.
por muita altura que atinja
jamais poderei sentir o enjoo
e ai de mim que finja
nestas asas não caber.
sinto a brisa quente
mas seria-lhe incapaz de morrer.
porque é tão vago, tão mancha
o momento de a não sentir.
Pffffff! Santa paciência!
Esta inaugura uma data de folhas que espero se tenham perdido no meio de tudo o que guarda o meu pai e se lembra a minha mãe.
Nunca fui muito boa a escrever porque até a mim me aborrece ler o que escrevo.
Pior só os formulários que preencho.
Era criança e escrevia à minha mãe e escrevia ao meu pai.
À minha mãe escrevia nos anos e no dia da mãe. Mas nunca o que me mandavam escrever. Escrevia quando lhe roubavam o envelope do dinheiro e deixavam a carteira intacta, ainda que esta tivesse uma nota a sair como isca para que os ladrões não levassem o envelope do dinheiro a sério numa loja com saldos na rua de Santa Catarina antes de ir comprar os cortinados para os quais tinha poupado não sei quanto tempo, só sei que a poupança se guardava em envelopes brancos e suspeitos. Escrevia para que ela não chorasse porque as mães não devem chorar, toda a gente sabe e, desta vez, toda a gente sabe mesmo porque toda a gente teve, em algum momento, uma mãe.
Escrevia ao meu pai quando o meu pai fazia anos e escrevia no dia do pai, mas nunca escrevi o que me era mandado escrever. Ao meu pai escrevia também em bilhetinhos que deixava em cima do aparador de pau-preto que veio no navio de Angola e que ficava à saída do quarto deles, aos quais ele me respondia prontamente num outro bilhetinho em cima do mesmo aparador que ainda existe, ainda no outro o dia o vi, imóvel como sempre dada a excelente qualidade da madeira, e tudo isto para dizermos um ao outro o quanto nos amávamos às escondidas, porque aparentemente dávamo-nos como o azeite e a água se dão.
Uma vez escrevi assim num papel que decorei porque, ao que parece, gostei muito e achava que fazia mesmo sentido (e, desculpa, vou-me rir antes um bocadinho, pode ser?):
Já está.
Não, agora é que já está.
voo voo.
por muita altura que atinja
jamais poderei sentir o enjoo
e ai de mim que finja
nestas asas não caber.
sinto a brisa quente
mas seria-lhe incapaz de morrer.
porque é tão vago, tão mancha
o momento de a não sentir.
Pffffff! Santa paciência!
Esta inaugura uma data de folhas que espero se tenham perdido no meio de tudo o que guarda o meu pai e se lembra a minha mãe.
Nunca fui muito boa a escrever porque até a mim me aborrece ler o que escrevo.
Pior só os formulários que preencho.
Tuesday, April 07, 2009
olha, não estou grávida mas às vezes dá-me vómitos
e faz-me o favor de ler "O Professor Sentado" e "O Guardador de Retretes"! - depois de me livrar da Adília vou afogar-me em doenças lusas, para ver se ganho defesas. e vou ler estes livros em voz alta, para que me ouçam as crianças invacinadas e para que todos aqueles que se sujam e crescem à sombra do Esquema se identifiquem e se vomitem de asco! 25 de abril uma ova! o zé mário é que tinha razão!
o noivado é como o purgatório
Apetece-me celebrar o nascimento deste blog.
Já lá vão alguns meses e ele cada vez menos resistente à paragem de todas as coisas, como sabíamos que teria de ser. Mas foi o motivo que o originou que agora muda. Primeiro teve o motivo que sabes. Depois o motivo tinha vontade de esperar. Depois esperou. Chegou o tempo de se perder na identidade e já não era coisa alguma com propósito. Ainda tentei o trespasse, mas a crise. Agora começo a pensar se seria mal pensado um ressurgimento do blog. Em que circunstâncias? Sabes que não sou capaz de te abandonar. Mas sou bem capaz de te fazer acompanhar de um copo de vinho, seja ele bebível ou só inebriante.
Então fazemos assim.
Eu continuo o que houver, sem compromissos, porque isso é condição genética do blog - e foi isso mesmo aliás que invalidou algumas propostas de trespasse das quais só teria a ganhar. Continuo o que houver, mas as missivas terão os destinatários que me aprouver no momento. Sabes que sou movida a paixões, que são mutáveis e ainda bem. Enquanto as anteriores se sedimentam numa espécie de amor ou, pelo contrário, se evaporam em direcção a uma desmemória, as presentes estão à mercê do vento que as estuda lenta e corrosivamente. E eu quero isso ainda.
Então mudará tudo porque já não terei respostas tuas. Ou sim, se notares que ainda são para ti.
Já lá vão alguns meses e ele cada vez menos resistente à paragem de todas as coisas, como sabíamos que teria de ser. Mas foi o motivo que o originou que agora muda. Primeiro teve o motivo que sabes. Depois o motivo tinha vontade de esperar. Depois esperou. Chegou o tempo de se perder na identidade e já não era coisa alguma com propósito. Ainda tentei o trespasse, mas a crise. Agora começo a pensar se seria mal pensado um ressurgimento do blog. Em que circunstâncias? Sabes que não sou capaz de te abandonar. Mas sou bem capaz de te fazer acompanhar de um copo de vinho, seja ele bebível ou só inebriante.
Então fazemos assim.
Eu continuo o que houver, sem compromissos, porque isso é condição genética do blog - e foi isso mesmo aliás que invalidou algumas propostas de trespasse das quais só teria a ganhar. Continuo o que houver, mas as missivas terão os destinatários que me aprouver no momento. Sabes que sou movida a paixões, que são mutáveis e ainda bem. Enquanto as anteriores se sedimentam numa espécie de amor ou, pelo contrário, se evaporam em direcção a uma desmemória, as presentes estão à mercê do vento que as estuda lenta e corrosivamente. E eu quero isso ainda.
Então mudará tudo porque já não terei respostas tuas. Ou sim, se notares que ainda são para ti.
Monday, April 06, 2009
tenho adormecido com a adília.
mas parece-me que estando eu a dormir ela continua acordada.
dormir com a adília significa acordar com ela, também.
e é assim que acordo com uma voz que me diz naquele tom jocoso.
a minha voz reagrupa continuamente pedaços inteiros.
a dela desarruma.
e é deixar-me desarrumar que eu quero como prenda de aniversário.
por isso resolvi que vou para um quarto de hotel. se alguém me pagar a estadia.
mas parece-me que estando eu a dormir ela continua acordada.
dormir com a adília significa acordar com ela, também.
e é assim que acordo com uma voz que me diz naquele tom jocoso.
a minha voz reagrupa continuamente pedaços inteiros.
a dela desarruma.
e é deixar-me desarrumar que eu quero como prenda de aniversário.
por isso resolvi que vou para um quarto de hotel. se alguém me pagar a estadia.
achado sem data numa data com dia

(desenho do lucas, 2 anos, no tux paint)
há pais que.
há mães também que em risos.
e até que.
descubram o escuro debaixo.
em baixo.
quantas mais crianças se.
quando de repente
envelhecerem os pais que
as mães que também em risos.
e as crianças se.
esquecerem de si no escuro
por baixo.
apavorando pais e mães
finalmente tarde demais.